Um relato impressionante de luta contra a SIDA
Em Portugal, entre 25 e 40% dos portadores de VIH têm também hepatite C. Maria João Brás é uma delas. Os seus 38 anos de vida foram palco da dependência de álcool e drogas, do nascimento de um filho com anticorpos do VIH, da luta contra a SIDA, hepatite C e duas tuberculoses, mas também de inúmeras vitórias.
A voz, grave, surge do outro lado do auscultador num tom firme. Maria João, com quem falámos ao telefone, tece a teia dos obstáculos que foi ultrapassando ao longo dos anos.
Qual combatente mostrando as feridas de guerra, exibe com orgulho as balas que a atingiram e que guarda para se lembrar do que aprendeu com a experiência. «Eu estive lá no fio da navalha. Desde que estive em fase de SIDA, tento viver intensamente e não estou para me chatear com coisas que não valem a pena». Maria João tinha nove anos quando começou a fumar, 12 quando começou a consumir álcool, 16 quando se tornou utilizadora de heroína e cocaína.
Aos 20 descobriu que tinha hepatite C. «Fiz análises ao sangue para entrar num centro comunitário para fazer desintoxicação. Entretanto, mudei de planos, resolvi ir viver para uma casa de família em Leiria e tentar recuperar sozinha. Um dia, como desculpa para poder ir ao Casal Ventoso comprar droga, fui a Lisboa buscar as análises. Na altura, em 1992, ainda não se sabia o que era a hepatite C, era a chamada não A não B».
Procurar ajuda foi a reação inicial. «Entrei em pânico porque não sabia o que é que tinha. No próprio dia liguei para todas as linhas telefónicas de apoio, SOS Drogas, SOS SIDA, e ninguém me sabia dizer o que era a hepatite C». No entanto, «depressa camuflei, comecei a usar mais drogas e aquilo acabou por me passar ao lado», conta. Na verdade, teriam que passar mais de dez anos para que iniciasse o tratamento da doença.
In Sapo Saúde
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